(Mário Rainho / Francisco Viana)
Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
Pra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem
Imagem que me enlouquece
Como um louco no deserto
Que do nada me aparece
E tão distante és tão perto
Vejo-te envolta em poeira
Ou transparente cristal
E a loucura é mais inteira
O sonho quase real
Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
Pra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem
(Frederico de Brito)
Cem anos que eu viva, não posso esquecer-me
Daquele navio que eu vi naufragar
Na boca da barra tentando perder-me
Daquela janela virada p´ro mar
Sei lá quantas vezes matei o desejo
E fui pelo mar fora com a alma a sangrar
Levando na ideia uns lábios que invejo
E aquela janela virada p´ro mar
Marinheiro do mar alto olha as ondas, uma a uma
Preparando-te um assalto entre montes de alva espuma
Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada p´ro mar…
Se mais ainda houvesse, mais portos correra
Lembrando-me em noites de meigo luar
Duns olhos gaiatos que trago à espera
Naquela janela virada p´ro mar
Mas quis o destino que o meu mastodonte
Já velho e cansado, viesse encalhar
Na boca da barra, e mesmo de fronte
Daquela janela virada p´ro mar…
(João Nobre)
Sra da Nazaré rogai por mim
Também sou um pescador que anda no mar
Ao largo da vida aproei nas vagas sem fim
Está o meu barco de sonhos quase a naufragar
As minhas redes lancei com confiança
Colhi só desilusões no mar ruim…
Perdi o leme da esperança
Eu não sei remar assim
Sra da Nazaré rogai por mim
(Ana Vidal / Raul Pereira)
Tu que navegas ao sabor do vento
Sem outra rota que o que se deseja
Tu que tens por mapa o firmamento
Vem descobrir-me uma vez que seja
E diz-me das viagens que eu não faço
Dos mundos cintilantes que antevejo
E traz-me mares de mel no teu abraço
Poeira de ouro velho no teu beijo
De ti não espero amarras nem promessas
É livre que te quero neste cais
Até que um dia em mim não amanheças
E te faças ao mar uma vez mais
E mesmo nesta hora de perder-te
Sabendo que a magia se desfez
Terá valido a pena conhecer-te
E deslumbrar-me ao menos uma vez!
(Cândido das Neves)
Noite alta, céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
De raríssimo esplendor
Só tu dormes, não escutas
O teu cantor Revelando a lua airosa
A história dolorosa
Deste amor
Lua, manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá-la com os meus beijos
Canto e a mulher que eu amo tanto
Não escuta, está dormindo
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama sou eu
Entre a neblina se escondeu
Lá no alto a lua esquiva
Está no céu tão pensativa
As estrelas tão serenas
Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar
Todo astral ficou silente
Para escutar
O teu nome entre as endeixas
As dolorosas queixas ao luar.
(David Mourão-ferreira / Frederico Afonso Rodrigues)
Era uma noite apressada
depois de um dia tão lento.
Era uma rosa encarnada
aberta nesse momento.
Era uma boca fechada
sob a mordaça de um lenço.
Era afinal quase nada
e tudo parecia imenso!
Imensa a casa perdida
no meio do vendaval,
imensa a linha da vida
no seu desenho mortal,
imensa na despedida
a certeza do final.
Era uma haste inclinada
sob o capricho do vento.
Era minh´ alma, dobrada,
dentro do teu pensamento.
Era uma igreja assaltada
mas que cheirava a incenso,
Era afinal quase nada,
e tudo parecia imenso.
Imensa, a luz proibida
no centro da catedral,
imensa, a voz diluída
além do bem e do mal;
imensa por toda a vida,
uma descrença total.
(Manuel Conde)
No verão
A brasa dourada e celeste
Queima este solo agreste
Doirando mais as espigas
Ceifeiros corpos curvados
Ceifando e atando em molhos
A benção loira da vida
Meu Alentejo
Enquanto isto se processa
O sol ferindo, sem pressa
Queima mais a tez bronzeada
O suor rasga a camisa
O homem queimado mais fica
E a vida é feita de brasa
O calor castiga os corpos
Os ceifeiros vão ceifando
Sem parar o seu labor
O seu cantar é dolente
É certo que é boa gente
Tem verdade, e tem mais cor!
(Aníbal Nazaré / Martinho da Assunção)
Quando a vi ela trazia
Bem juntinho ao coração
Como um hino de alegria
Um cravo de são João
Passou por mim apressada
Da primeira vez que a vi
Achei a moça engraçada
E nunca mais a esqueci
Vinha bonita
Com o seu vestido de chita
Tinha uma graça infinita
Tinha um ar bem português
O meu olhar
Pousou nela como um beijo
E fiquei com o desejo
De a encontrar outra vez
Fez-me o destino a vontade
Novamente a encontrei
Mas para falar a verdade
Que diferença eu lhe achei
Elegante no trajar
De luxo e ostentação
E uma orquídea no lugar
Do cravo de são João
Vinha elegante
Num vestido extravagante
E tinha um ar petulante
Que cheirava a perdição
Naquela orquídea
Sua vida se resume
Porque perdeu o perfume
Do cravo de são João
(Pedro Homem de Mello / Hermano da Câmara)
De mãos nos bolsos e de olhar distante
Jeito de marinheiro ou de soldado
Era o rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado
Perguntei quem era, ele me disse
Sou do monte senhor, um seu criado
Pobre rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado.
Porque me assaltam turvos pensamentos
Na minha frente estava um condenado
Vai-te rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado
Ouvindo-me quedou-se altivo o moço
Indiferente à raiva do meu brado
E ali ficou de camisola verde
Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado
Soube depois ali que se perdera
Esse que só eu pudera ter salvado
Aí do rapaz de camisola verde
Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado…
(Tradicional)
De noite pelas campinas
Anda o sol atrás da lua
Assim vai a minha sina
Meu amor atrás da tua
Que inveja tens tu das rosas
Se és linda como elas são
A rainha das flores
Tratadas por tuas mãos
Tratadas por tuas mãos
Pelas tuas mão mimosas
Se és linda como elas são
Que inveja tens tu das rosas