(Samuel Úria)
Se queres ser melhor mulher
Embarca para uma ilha.
Se algum rapaz por lá houver
Não é deserta a ilha.
Se melhorares e ele te quiser
Não esqueças nessa ilha
Que eu não vou querer melhor mulher;
Mulher vou querer-te minha.
Se queres porém enriquecer
Emigra lá para fora.
Se noutra terra o cofre encher
Foi bom tu estares lá fora
E se então alguém te pretender
Não te olvides lá fora
P’ra mim tu és rica mulher
Não tinhas de ir embora.
Podes querer até te embelezar
Mas vais deixar-me tão triste:
Não quero mais bela mulher
Mais bela não existe.
voz: António Zambujo
guitarra clássica: Carlos Manuel Proença
(Miguel Araújo)
De manhã cedinho
Eu salto do ninho e vou p’rá paragem
De bandolete à espera do 7
Mas não p’la viagem.
Eu bem que não queria
Mas um certo dia vi-o passar
E o meu peito céptico
Por um pica de eléctrico voltou a sonhar.
A cada repique
Que soa do clique d´aquele alicate
Num modo frenético
O peito céptico toca a rebate.
Se o trem descarrila
O povo refila e eu fico num sino
Pois um mero trajecto
No meu caso concreto é já o destino.
Ninguém acredita no estado em que fica o meu coração
Quando o 7 me apanha
Até acho que a senha me salta da mão
Pois na carreira desta vida vã
Mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá.
Que triste fadário que itinerário tão infeliz
Cruzar meu horário com o de um funcionário de um trem da CARRIS
Se eu lhe perguntasse se tem livre passe para o peito de alguém
Vá-se lá saber talvez eu lhe oblitere o peito também.
voz: António Zambujo
acordeão: João Salcedo
guitarra acústica: Miguel Araújo
baixo português: Ricardo Cruz
bateria: Mário Costa
com a banda de música dos empregados da CARRIS dirigida por maestro Carlos da Silva Ribeiro.
arranjo da banda da CARRIS: João Moreira
(João Monge / Ricardo Cruz)
Eu sei que cheguei tarde
Mas tenho uma explicação
Não passei na matilha
Não provei nem uma jola
Até colhi uma flor
Pra colher tua atenção
Eu juro que hoje não
Não pus o pé na argola.
Trago marcas de batom
No casaco azul-marinho
Hoje foi dia da mãe
Passei lá para a beijar
Mas ela já não vê bem
Beijou-me o colarinho
Ela perguntou por ti
E acabei por me atrasar.
Apanhei fila na ponte
Viste no telejornal?
Ainda te quis avisar
Mas dali não tinha rede
O destino às vezes faz
Partidas de Carnaval
Vá lá, tem pena de mim
Tenho fome e tenho sede.
Eu sei que cheguei tarde
Estou meio-morto e com batom
Mas deixa-me explicar
O que foi essa hora morta
Não grites, por favor,
Não faças subir o tom
Já está tudo a espreitar
Vá lá, Wilma, abre a porta.
voz: António Zambujo
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
guitarra clássica: António Zambujo
baixo português: Ricardo Cruz
(Maria do Rosário Pedreira / António Zambujo)
Sai de casa, vê as horas,
Solta a roda do vestido,
Fecha a porta de mansinho.
Dos seus lábios como amoras
Espreita um sorriso atrevido -
Põe o pé no mau caminho.
Passa por mim, diz-me adeus
E, em passo bem apressado,
Desaparece no escuro.
Ai, por um beijo dos seus
Eu vendia o meu passado
E comprava o seu futuro.
Olha quem chega tão tarde
(Falta pouco o Sol desponta),
Vem de sapatos na mão.
‘inda tem quem a aguarde:
Sou eu, a barata tonta
Às voltas com a paixão.
Passa por mim, diz-me adeus,
Vê as horas e boceja
(Há-de deitar-se vestida).
Ai, por um sonho dos seus
Em que fosse eu quem a beija
Dava toda a minha vida.
voz, guitarra clássica: António Zambujo
trompete: João Moreira
clarinete: José Miguel Conde
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
baixo português: Ricardo Cruz
(João Monge / Luís Silva Martins e Pedro Silva Martins)
Eu vi
Como ela o trata e pensei para mim
Se ele é tão bom, tem boca de pudim
Tem voz de santo e modos de pavão.
Eu sei
Que a minha mãe nunca me fez assim
Andei na escola do princípio ao fim
Uns dias ia, outros também não.
Já dei
Por mim, às vezes, a falar sozinho
Troco o Benfica por algum carinho
Se ela trocar pela minha paixão.
Já vi
Que ele usa botas de polimento
E aqueles fatos a cem por cento
Isso diz tudo acerca de um qualquer.
Eu sei
Como ela dança com o peito colado
Ninguém diz que tem o pé apertado
Se está nos braços desse Fred Astaire.
Se alguém
Pensar que morro deste desconsolo
Eu vou para os Alunos de Apolo
E dou a vida por essa mulher.
Perdão
Pelo mau jeito que dei, meu rapaz.
És tão perfeito, tu és quase um ás
Mas eu guardei para o fim o melhor trunfo.
Eu dei
A ela mais do que a minha atenção,
Abri a porta do meu coração,
Ela escolheu, não foi nenhum triunfo.
Amigo
Vais ver que um dia ainda vais ser feliz
Se tens dói-dói faz aquilo que eu fiz
Morre por ela e trata com um drunfo.
voz, guitarra clássica: António Zambujo
trompete: João Moreira
clarinete baixo: José Miguel Conde
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
baixo português: Ricardo Cruz
(José Eduardo Agualusa / Ricardo Cruz e Jon Luz)
Pois, me beijaste, depois partiste,
Até a luz do Sol me anoitece
E o azul do mar parece triste.
Durante um fulgor tudo foi meu.
Coração traidor, bate e esquece
O céu dos dias, que me pertenceu.
Não sei se inveje quem ama ou se lamente
O amor é uma espécie de loucura
Em que vemos bailar o firmamento.
Dai-me Senhor, a paz do esquecimento.
Pois, se vi a luz e a perdi,
Sou mais cego agora do que dantes,
E meu fado já não mora aqui.
De que servem estrelas a brilhar no céu,
Se não tiver na minha a tua mão,
E o teu olhar não iluminar o meu?
Pois se a razão me diz esquece,
Neste peito bate um coração,
Que contra a razão faz e acontece.
Não existe mentira havendo fé.
A lua, perdida na imensidão
É quem no alto céu puxa as marés.
voz: António Zambujo
trompete: João Moreira
clarinete: José Miguel Conde
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
guitarra acústica: Jon Luz
baixo português: Ricardo Cruz
(Pedro da Silva Martins / Luís José Martins e Pedro da Silva Martins)
Eu sei
Que sou o rei das falsas esperanças
Que meço muito mal distâncias
Mas isso é só porque eu sou desorganizado.
Eu sei
Que nunca cumpro o que prometo
Que falo muito e depois esqueço
Mas tu sabes como eu sou tão despassarado.
Lamento
Mas só daquilo que eu não digo
É que me arrependo
Quero casar contigo!
Eu sei
Que achas isto um devaneio
Que nunca vais levar a sério
Mas também bate um coração num destrambelhado.
Eu sei
Que tu só acreditas vendo
Pois fique 7 de Novembro
e tens aqui esta canção anel de noivado.
voz: António Zambujo
guitarras: Pedro da Silva Martins e Luís da Silva Martins
(Jorge Drexler)
Olvídame,
Esta zamba te lo pide.
Te pide mi corazón
Que no me olvides,
Que no me olvides.
Deja el recuerdo caer
Como un fruto por su peso.
Yo sé bien que no hay olvido
Que pueda más que tus besos.
Yo digo que el tiempo borra
La huella de una mirada,
Mi zamba dice: no hay huella
Que dure más en el alma.
voz, guitarra clássica: António Zambujo
trompete: João Moreira
clarinete baixo: José Miguel Conde
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
baixo português: Ricardo Cruz
(Noel Rosa)
Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João.
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão.
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar.
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar.
Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação.
Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim.
voz, guitarra clássica: António Zambujo
trompete: João Moreira
clarinete: José Miguel Conde
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
baixo português: Ricardo Cruz
(Edu Mundo)
A Rosa é bonita
Mas mais é a Rita
Que coisa tão bela
E as flores nela
Como à Gabriela
Vestem perfume
Que fica tão bem.
Formosa é Anita
Esguia catita
Mas que caravela
Já a Daniela
Seu rosto revela
Sorrisos que assumem
Que a quero também.
Falei com Amélia
Para ver Aurelia
Irmã de Florbela
Pois flor como ela
Só vira Manuela
Aflora ciúme
De rubro carmim.
Quase não quis Odete
Que através de Elizabete
Mandou as lágrimas dela
Ao contar-lhe na viela
Que não seria ela
Quem ia cuidar de mim .
Já beijei Joana
E a Mariana
Mas fui com cautela
Pois nessa ruela
Na mesma cancela
Num golpe de sorte
Marina me quer.
Tal como a Firmina
Ana e Josefina
Querem ter a tutela
Mas sinto a cela
E o meu amor gela
Reanimo o norte
E fujo a correr.
Sonhei com os dias
De todas as Marias
Virem à janela
E como uma aguarela
Verde e amarela
Num ondulado forte
De azul rosmaninho .
De tanto querer
Tudo o que é mulher
Sei que no final
De não saber qual
Vivo assim o mal
De amar sozinho.
voz: António Zambujo
guitarra clássica: Carlos Manuel Proença
(Maria do Rosário Pedreira / Ricardo Cruz)
Mal a vi, fui seduzido
Pelo seu corpo lança-chama
E a perna bem torneada.
E meti no meu sentido:
Se não a levo para a cama,
Não sou homem, não sou nada.
Pus um ar de matador
E assim, sem falinhas mansas,
Convidei-a para jantar.
Quase a vi ficar sem cor,
Mas, quando eu perdia as esperanças,
Aceitou sem hesitar.
Pronto para a grande conquista,
Barba feita, risca ao lado,
Sapato novo e brilhante,
Comprei rosas na florista
E cheguei adiantado
À porta do restaurante.
Quase me caía o queixo
E até fiquei aturdido
Com o choque da surpresa:
Ela, ao chegar, deu-me um beijo,
Apresentou-me o marido
E foi andando p’rá mesa.
voz, guitarra clássica: António Zambujo
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
contrabaixo: Ricardo Cruz
(Rodrigo Maranhão/Pedro Luís)
Luzes, sonhos, Deusas,
Lendas, Sátiros, devires,
Lembranças são dádivas,
Loucos, santos, demos,
Loas, sons, desejos.
voz, guitarra clássica: António Zambujo
trompete: João Moreira
clarinete: José Miguel Conde
guitarra portuguesa: Bernardo Couto
contrabaixo: Ricardo Cruz
(Serge Gainsbourg)
Oh je voudrais tant que tu te souviennes,
Cette chanson était la tienne,
C'était ta préférée, je crois
Qu'elle est de Prévert et Kosma.
Et chaque fois les feuilles mortes
Te rappellent à mon souvenir,
Jour après jour
Les amours mortes
N'en finissent pas de mourir.
Avec d'autres bien sûr je m'abandonne,
Mais leur chanson est monotone
Et peu à peu je m' indiffère,
A cela il n'est rien a faire.
Car chaque fois les feuilles mortes
Te rappellent à mon souvenir,
Jour après jour
Les amours mortes
N'en finissent pas de mourir.
Peut-on jamais savoir par où commence
Et quand finit l'indifférence?
Passe l'automne, vienne l'hiver
Et que la chanson de Prévert.
Cette chanson
Les feuilles mortes
S'efface de mon souvenir
Et ce jour là
Mes amours mortes
En auront fini de mourir.
voz: António Zambujo
guitarra portuguesa: José Manuel Neto
guitarra clássica: Carlos Manuel Proença
baixo português: Ricardo Cruz
(José Fialho Gouveia / Alice Sepúlveda)
Eu só sei viver de ouvido
Não fui nunca de estudar
O que sei foi aprendido
Pelas artes de escutar.
Eu só sei viver de ouvido
Nunca fui de erudições
Mas eu sei pôr em sentido
O bater dos corações.
Não me queiras no papel
De escritor muito inspirado
Mas eu sei pôr na tua pele
Um poema arrepiado.
Eu só sei viver de ouvido
Nunca leio as instruções
Mas sei ler o teu vestido
Sei abrir os teus botões.
voz, guitarra clássica: António Zambujo